9 de setembro de 2007


Feriadão sem muita atividades e sem novidades. Saudades da minha Frô...
Segue um texto interessantíssimo que recebí por e-mail:
Max Gehringer* - Colunista da Revista EXAME e VOCÊ S/A.
Vi um anúncio de emprego.
A vaga era de gestor de atendimento interno, nome que agora se dá à seção de serviços gerais. E a empresa contratante exigia que os eventuais interessados possuíssem sem contar a formação superior, liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem hands on. Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía mesmo essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: 800reais. Ou seja, um pitico.
Não que esse fosse algum exemplo absolutamente fora da realidade. Pelo contrário, ele é quase o paradigma dos anúncios de emprego atuais. A abundância de candidatos está permitindo que as empresas levantem, cada vez mais, a altura da barra que o postulante terá de saltar para ser admitido. E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da superqualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico...
Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros Candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno... E um de seus primeiros clientes foi o seu Borges, gerente da contabilidade.
- Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
- In a hurry!
- Saúde.
- Não, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
- E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
- O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
- Não, não.. Cópias normais mesmo.
- Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
- Fabiana, desse jeito não vai dar!
- E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
- Como assim?
- É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
- Olha, neste momento, eu só preciso das três có...
- Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
- Futuro? Que futuro?
- É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
- Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
- Sei. Mas o senhor é hands on?
- Hã?
- Hands on. Mão na massa.
- Claro que sou!
- Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.

Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:
1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.
Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível que um visitante desavisado que chegasse de repente confundiria nossa salinha do café com o auditório da Fundação Alfred Nobel.
Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas!Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha noções de informática e possuía energia e criatividade. Sem mencionar que estava fazendo pós-graduação. Só que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida. Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as empresas modernas torcem o nariz: O que é capaz de resolver, mas não de impressionar.
* Executivo de grandes empresas durante 33 anos, Max Gehringer ocupou cargos como Superintendente Industrial da Peixe, Diretor Industrial e Diretor de Vendas e Novos Negócios da Elma Chips, Presidente da Pepsi-Cola Engarrafadora e nos Estados Unidos como Diretor Manufactoring System pela PepsiCo Foods International USA. É especialista em Marketing e Consultor de Empresas, tendo formação acadêmica em Economia com pós-graduação pela Fundação Getúlio Vargas e Mestrados e Doutorado na PUC RJ, Harvard e Cambridge. Em janeiro de 1999 foi escolhido, em pesquisa do jornal Gazeta Mercantil, como um dos "30 Executivos Mais Cobiçados do Mercado". Foi um dos cinco finalistas do prêmio Top of Mind em 2005 e 2006 na categoria "Palestrante".

2 Comments:

Anônimo said...

Muito bom o texto escolhido!
Aqui em Wyoming o mercado de trabalho está exatamente do lado oposto, com falta de gente ou com gente que não quer saber de trabalho mas quer um emprego...

Silvia C. said...

Lembro quando eu comecei a trabalhar com eventos,isso ha 15 anos (tô mesmo velha)...era outra coisa...depois,uns 10 atras,comecei a fazer promoções...cara,os cachês eram gigantescos....a gente ficava feliz de trabalhar numa coisa bacana,se divertir e ainda ganhar bem.
Hoje em dia todo mundo é hostess...toda 'pu##' quer recepcionar evento e sair com convidado....isso zoa o mercado.
Ja me chamaram pra fazer trabalho com cachê de 30$ no dia,eu agradeci como boa moça mas disse que nunca iria fazer...Talvez tenha exagerado porque sei bem o que é não ter 1 cent no bolso...mas a cada dia os pagamentos estão piores...e a falta de comprometimento não tem fim...
Não fiz o trabalho mas tenho certeza que o agente não teve grandes dificuldades em encontrar alguém...tem muita gente!
Aí vou à um casting que pede experiencia,fluencia em outra lingua,apresentação e o caramba...neguinho dá o trabalho pra vagabunda de mini mini-saia e super decote....Tão tirando recepcionista de puta na caruda!!!