14 de novembro de 2005

ESPUMA ATÉ O TÉTO

Imagine o caro leitor que o local onde se encontra agora é uma
caixa d'água. Isso mesmo, esteja onde o ilustre leitor estiver, na
sala, no quarto, na lanhouse; enfím, no local de onde lê este
texto. Imagine que este local é uma grande caixa d'água.
Agora imagine esta caixa d'água com uns dois palmos de água.
Dissolva uma caixa de sabão em pó de forma uniforme, por toda a
extensão da caixa. Agora chacoalhe. Chacoalhe bem, com vontade, com raiva, com
ódio!!! Lembre-se o caro leitor de alguém que odeia e faça de
conta que está estrangulando o dito cujo (não exagere para não
quebrar a caixa e avacalhar de vez dom o esquema todo). Melhor
ainda (o pior, dependendo do ponto de vista) imagine logo um
tremor de terra.

Em pouco tempo a cixa d'água estará cheia, correto? Com sua
capacidade totalmente preenchida, com menos de dois palmos de água
e espuma até o této.
Pois saiba o caro leitor que é mais ou menos isso o que ocorre nos
mercados financeiros, com a política econômica do governo e mesmo
com a filosofia de vida da maior parte de nossa sociedade civil.
Pouca água e espuma até o této.
Imagine-se o caro leitor na seguinte situação: Você vai à uma corretora de mercadorias credendiada na Bolsa de
Mercadorias & Futuros e faz um contrato de compra de soja; 100
sacas de 60 kg´s. Vencimento e entrega para daqui à 6 meses. Você
não tem pretensões de possuir a mercadoria, apenas lança-se no
mercado para fazer lucro; em outras palavras, você é um
especulador. Digamos que o valor total do contrato seja de R$
5.000,00. Porém, você apenas deposita uma Margem de Garantia no
valor de R$ 1.200,00 e mais R$ 100,00 de taxas. Nas estatísticas
da bolsa são registrados os R$ 5.000,00 do valor do contrato.
Depois de 3 meses o valor do contrato chegou à R$ 6.000,00 e você
resolve se desfazer do contrato, fazendo um simples contrato de
venda do mesmo produto na mesma quantidade. Vc. lucrou R$ 1.000,00pagou R$ 1.200,00 de margem e digamos R$ 200,00 de taxas. O que
rolou em grana de verdade foi R$ 2.400,00; porém, nas estatísticasda Bolsa de Mercadorias & Futuros figura um volume de 2 contratos,
e R$ 11.000,00. Dos quais apenas R$ 2.400,00 existem efetivamente,
o restate não passa de "dinheiro virtual". No mundo inteiro, em
todas as bolsas ao redor do globo, esta proporção chega à 3% de
dinheiro real, de verdade.
O resto?ESPUMA ATÉ O TÉTO!!!
A política econômica do governo é milimétricamente arquitetada
para atender a esse modelo: as autoridades monetárias mantém as
taxas de juros nas alturas para segurar o "capital especulativo
volátil", o dinheiro que os especuladores estrangeiros "colocam"
em nosso sistema finaceiro para colher osfrutos de nossos
generosos juros; muito desse "capital de motel" (como diria o
Roberto Campos) é aplicado nos mercados futuros da BM&F, portanto
é dinheiro virtual; ESPUMA ATÉ O TÉTO.
Entretanto é essa espuma quem disfarça os déficits externos em
nosso Balanço de Pagamentos, e numa incrível manobra de "ficção
contábil", o governo consegue transformar os déficis em
superávtis, para alegria do FMI. É como se uma empresa pedisse um
empréstimo em "dinheiro que não existe" para cobrir prejuízos e
"fabricar" lucro contábil. Porém, os juros pagos por esse dinheiro
virtual são reias!!! É como pegar emprestada uma caixa d'água
cheia de espuma e pagar com juros de um cópo de água por mês. Por
um prazo alongado!!!
Isso sim é que "bolha especulativa", ou melhor, "bolhas".
Entretanto, a maoria de nossa sociedade civil - em todas as
classes sociais - não pode reclamar de tal modelo, pois age de
forma muito parecida. Vivemos excessivamente preocupados com
"aparências", "imagem" e com "o que os outros vão pensar". Em com
isso, jogamos sabão em pós em nossas caixas d'água e sacudimos até
fazer espuma. ESPUMA ATÉ O TÉTO.
Todos queros um Audi ou BMW. Não importa que tenha sido adiquirido
no leasing e que entremos no cheque especial para encher o tanque.
Todos querem morar na praia, não importa que seja numa "kitsch"
caindo aos pedaços. Adoramos telefones celulares; não importa que
sejam pré-pago e passemos um ano inteiro pagando prestações que,
se somadas, atingem o valor de 2 ou 3 aparelhos nóvinhos em folha.
E por aí vai.
Parafraseando o Língua de Trapo:

" Neguinho não tem o que comer, mas tem forno de microondas. Não
sabe ler nem escrever, mas têm microcomputador. Não tem um puto,
mas não sai sem o cartão magnético do banco. É a miséria
digitalizada.!"

O negócio é manter a caixa cheia até o této, mesmo que seja de
espuma. Assim vamos vivendo de ilusões e inflando nossos égos em
bolhas especulativas tão letais quanto as do mercado financeiro.
Esquecemos sempre que, mais cedo ou mas tarde, a espuma abaixa e
se dissipa, revelando ao mundo o verdadeiro conteúdo da caixa
d'água.
E daí por diante não adianta colocar a culpa no Lula, nem
no Palocci, nem muito menos no FMI.

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